terça-feira, 14 de maio de 2013

O Voo






Minha sobrinha me fez lembrar de uma coisa deliciosa. Vou compartilhar:

Eu devia ter uns 3 anos, lembro vagamente das imagens, mas a sensação ficou.
Nós morávamos muito longe do centro da cidade e, aos domingos, para ir à missa, precisávamos nos deslocar a pé e depois de ônibus. O caminho a pé era longo, chato e numa rua ainda de terra batida. Lembro das nossas sombras: papai, eu e mamãe, nessa ordem. Thaís sempre gostou de andar livre, sem mãos para limitar seus movimentos (na verdade acho que ela tinha vergonha de ser vista com a gente, rs).
Eu caminhava com passos menores que os que caminhos hoje. Em um certo momento, papai e mamãe tiveram uma ideia genial, que depois descobri ser muito comum entre os pais: segurar minhas duas mãos e erguer-me do solo, como num voo. Durava 5 ou 10 segundos, ficava a centímetros do chão, mas na cabeça da menininha magrela aquilo era o voo mais emocionante da sua vida: ela olhava para baixo e via sua sombra flutuando lááááá no chão, olhava para cima e via as estrelas tão de perto que quase podia tocá-las, fechava os olhos e sentia o vento nos cabelos e ria, ria... Papai e mamãe também riam, como se estivessem voando com ela.
Eram segundos mágicos para a menininha magrela, neles ela via o mundo de uma forma única. Para papai e mamãe era uma maneira de adiantar aqueles passinhos miúdos.
Poft! Aterrizava. Suas pernas ainda estavam leves e pareciam andar mais rápido. O chão era o chão e as estrelas eram as únicas cúmplices daquela viagem ao infinito. Ela dizia:
- Mais! Mais!
Papai e mamãe até faziam mais 1 ou 2 vezes, não mais que isso, era cansativo para eles. Mas ela achava que tinham medo dela sair voando ou de ser roubada por alguma estrela cadente.

Agora, com os meus pés no chão e a cabeça ainda nas nuvens, posso proporcionar a mesma viagem à minha pequena sobrinha, pedacinho de gente tão imaginativo quanto eu.

(Textinho dedicado à Iris)

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