terça-feira, 23 de agosto de 2011

La cucaracha

Elza era uma doméstica que detestava criancinhas. Foi parar na minha casa quando eu tinha 3 anos e morava na Vila dos Coroados.

Estava passando o programa da Mara-Maravilha e a menina magrela dançava no sofá durante o primeiro dia de Elza em sua casa. Sem querer, magrela esbarrou no braço de Elza, que tinha um curativo, e já levou um empurrão de entrada. Elza foi efetivada no emprego (mamãe não sabia de nada, coitada).
Magrela completou 4 anos numa casa nova, que ficava no Parque Tinola, e Elza também foi.

O tema do título de nossa história começa agora. Peço às pessoas de estômago sensível que, por favor, se retirem.

Magrela detestava escola e tudo relacionado à hora de ir para a mesma. Portanto: detestava banho e almoço. Eram minutos e minutos de berreiro! Elza, no auge de sua ira, pegou uma barata sei lá onde, e disse:
_ Se você não entrar nesse banho AGORA, eu jogo essa barata em cima de você!!!
_ Nãããããão! Nãããããão! Eu tomo, eu tomo!!!
Elza sorriu como o Grinch e percebeu que tinha nas mãos a grande chance de sua vida: se livrar do stress com aquela pirralhinha.
Saindo do banho, soluçando de tanto chorar, magrela sentou no sofá e Elza já chegou com o prato e a barata nas mãos:
_Agora come! Se você não comer essa comida todinha, eu te faço engolir essa barata!!!!
_ Nãããããão! Nãããããão! Eu como, eu como!!!
E assim, na vida de Elza, tudo era mais tranquilo. Quando não tinha barata, ela pegava um osso de galinha, ou uma folha, ou um tufo de cabelos e deixava a mente fértil da menininha magrela funcionar baratinada e obedecer rápido.
Mas a vida de magrela, principalmente de noite, não era nada tranquila, pois vivia rodeada por pesadelos: com baratas saindo de todos os lugares possíveis e impossíveis no banheiro, com baratas embaixo da carne no seu prato, com baratas na sua cama, com baratas saindo do shampoo... Mamãe e papai não sabiam o que fazer. Apelaram até para a rezadeira que tinha uma onça esculpida no telhado!
Um dia, vovô resolveu visitar magrela na hora do almoço e levar um Baton para a sobremesa (nham!). Ouviu os gritos da menininha de longe, entrou devagarzinho e pegou a cena bizarra. Agarrou Elza pela gola e jogou para fora de casa.
Não sei o que aconteceu com Elza, talvez esteja correndo até hoje!

sábado, 20 de agosto de 2011

Marionete

Quando eu era criança, eu achava que éramos todos marionetes de Deus. Ele fazia o que quisesse com a gente, portanto, se eu "pecasse", a culpa não seria minha, porque Deus que estava no comando.

_ Vovó! Thaís não quer me deixar brincar no balanço!
_ Ô Thaís, larga de ser egoísta e deixa a sua irmã balançar um cadin!!!!
(Thaís olha nos olhos da magrela e diz, ameaçadora)
_ Se eu me meter num castigo, você tá perdida.
(A magrela começa a choramingar e resolve ceder o balanço à Thaís novamente)
_ Thaís, você ouviu????? (disse Vovó)
_ Deixa vó, eu não quero mais balançar não. Vou desenhar na terra. (magrela choramingando)
Enquanto a magrela desenhava e fazia lama com as gotinhas de seu choramingo, viu que o vovô tinha cortado vários pedaços de bambú e deixado alí pelo chão. Ainda triste e com raiva, falando sozinha, disse:
_ Também, vou jogar isso aqui na sua cabeça e você vai estar perdida comigo.
TÚM!!!!!

Silêncio.

Thaís cai do balanço.

Silêncio.

"Aaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhh!!!! Vóóóóóóó!!! Thaine tampou um bambú na minha cabeça, aaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!"

Bom, a magrela ficou de castigo por alguns dias, mas não sentiu culpa. Afinal, era marionete de Deus e Ele quis assim.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Apresentação

Eu vivo num mundo de lembranças. Sou atriz e sempre que preciso fazer uma cena ou trabalho complicado, procuro na memória como eu agí, quando criança, numa situação semelhante. E não é que funciona?!?
A lógica da criança é muito simples, ela não tem auto-crítica e faz o que quer sem pensar nas consequências. Isso é muito difícil para um adulto. 
Aprendo muito dando aula para crianças de 2 a 5 anos, de verdade! Recomendo aos deprimidos, cardíacos, estressados, anorexos, psicóticos, obesos, enfim, todo mundo que se tornou um adulto chato e cheio de doenças.



(Durante o momento do ofertório numa missa)
- Mãe!
- Pssssssssssssiu!
(mais baixo) - Mãe, pra quê que aquele garoto tá pegando o dinheiro de todo mundo?
- Pra Deus, minha filha. É pra Deus.
A mente fértil da menininha magrela começou a funcionar. "Pra Deus?!? Mas a única maneira de encontrar Deus é morrendo. Coitado do garotinho, saindo dalí aqueles caras de branco (os ministros da eucaristia) vão matá-lo só pra entregar o dinheiro pra Deus???? Não seria mais fácil Ele, que é Todo-Poderoso, descer e pegar numa hora que todo mundo tá dormindo, igual ao Papai Noel???"
O menino sai e um som seco ecoa pela igeja, foi só alguém que tropeçou no genuflexório, mas para a menina magrela pareceu um tiro. Aflita, ela começa a rezar para que Deus tenha a consideração de devolver o menino para sua pobre mãe que frequentava a missa todos os domingos. Finalmente, depois de longos minutos, o menino retorna sem nenhuma mancha de sangue. "Graças à Deus! A mamãe dele agora deve estar aliviada"
Todos os domingos era a mesma tortura, matavam o pobre do menino recolhedor de dinheiro pra Deus e a menina magrela não parava de rezar até o garoto reaparecer. 

É difícil ser incompreendida. Mas pelo menos a professora de psicologia me deu 10 num teste quando contei essa história!!!