domingo, 16 de outubro de 2011

Um Natal...

Sei que ainda estamos longe do Natal, mas resolví antecipar esse post por um motivo mais que especial na minha vida. Vocês entenderão no final.

Era Natal de 1990epoucos e, como sempre, passávamos na casa da Tia Elizeth e do Tio Cláudio: roupinha nova, muita comida, Especial do Roberto Carlos na TV, brincar até cair de sono, ver o Papai Noel passar no céu... Peraí????? Ver o Papai Noel?????

_ Pessoal!! Olha! Olha!!! O Papai Noel e as renas!!! Corre gente!! Vem ver!!!! (berrava a menininha magrela)

Ninguém foi.

Aquele momento mágico e de total encantamento foi só dela. Nem o Vinicinhus, o mais bebê de todos, acreditou. Os papais da festa diziam: "Aham. Que legal, Thaine!", mas no fundo ela sabia que nenhum deles acreditava. As mamães estavam muito ocupadas cantando e imaginando ganhar uma rosa do Especial Roberto Carlos, pareciam nem ouvir a menininha magrela gritando pela casa.

Passou. Só ela viu. Só ela sabia daquele momento.

Natal seguinte, 1990emaisumpouco. Lá estavam todos novamente, no mesmo cenário. A menininha magrela perguntou que horas eram e não tirava os olhos do céu, encostada no murinho do terraço. Deu meia-noite. O Papai Noel não passava. "Tudo bem, ele tem até a 1h para passar", dizia a menininha magrela para si mesma.
A Tia Elizeth a pegou pela mãozinha e a levou até a árvore de Natal.
_Mas eu estou esperando o Papai Noel.
_É rapidinho, vem com a tia.

Chegando à árvore, ela entregou um embrulho à menina magrela, que rasgou rapidamente para voltar ao seu posto de vigia do Papai Noel. Era um estojo maneiríssimo, parecia uma câmera.
_Mas o melhor você nem imagina. (disse a Tia Elizeth desmontando o estojo) Essas duas partes viram um binóculo, agora suba pro terraço e espere o Papai Noel. Quando ele passar, coloque o binóculo e vai ver que ele está acenando e sorrindo para você.

A magrela abraçou a Tia Elizeth e subiu para ver o Papai Noel de pertinho com seu binóculo.

Às vezes os adultos parecem ocupados, mas tem sempre um com alma de criança que estava ouvindo você. Essa era a minha Tia Elizeth, uma das pessoas mais especiais e que mais amei na minha vida. Saudades, Tia. Vá com Deus.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

La cucaracha

Elza era uma doméstica que detestava criancinhas. Foi parar na minha casa quando eu tinha 3 anos e morava na Vila dos Coroados.

Estava passando o programa da Mara-Maravilha e a menina magrela dançava no sofá durante o primeiro dia de Elza em sua casa. Sem querer, magrela esbarrou no braço de Elza, que tinha um curativo, e já levou um empurrão de entrada. Elza foi efetivada no emprego (mamãe não sabia de nada, coitada).
Magrela completou 4 anos numa casa nova, que ficava no Parque Tinola, e Elza também foi.

O tema do título de nossa história começa agora. Peço às pessoas de estômago sensível que, por favor, se retirem.

Magrela detestava escola e tudo relacionado à hora de ir para a mesma. Portanto: detestava banho e almoço. Eram minutos e minutos de berreiro! Elza, no auge de sua ira, pegou uma barata sei lá onde, e disse:
_ Se você não entrar nesse banho AGORA, eu jogo essa barata em cima de você!!!
_ Nãããããão! Nãããããão! Eu tomo, eu tomo!!!
Elza sorriu como o Grinch e percebeu que tinha nas mãos a grande chance de sua vida: se livrar do stress com aquela pirralhinha.
Saindo do banho, soluçando de tanto chorar, magrela sentou no sofá e Elza já chegou com o prato e a barata nas mãos:
_Agora come! Se você não comer essa comida todinha, eu te faço engolir essa barata!!!!
_ Nãããããão! Nãããããão! Eu como, eu como!!!
E assim, na vida de Elza, tudo era mais tranquilo. Quando não tinha barata, ela pegava um osso de galinha, ou uma folha, ou um tufo de cabelos e deixava a mente fértil da menininha magrela funcionar baratinada e obedecer rápido.
Mas a vida de magrela, principalmente de noite, não era nada tranquila, pois vivia rodeada por pesadelos: com baratas saindo de todos os lugares possíveis e impossíveis no banheiro, com baratas embaixo da carne no seu prato, com baratas na sua cama, com baratas saindo do shampoo... Mamãe e papai não sabiam o que fazer. Apelaram até para a rezadeira que tinha uma onça esculpida no telhado!
Um dia, vovô resolveu visitar magrela na hora do almoço e levar um Baton para a sobremesa (nham!). Ouviu os gritos da menininha de longe, entrou devagarzinho e pegou a cena bizarra. Agarrou Elza pela gola e jogou para fora de casa.
Não sei o que aconteceu com Elza, talvez esteja correndo até hoje!

sábado, 20 de agosto de 2011

Marionete

Quando eu era criança, eu achava que éramos todos marionetes de Deus. Ele fazia o que quisesse com a gente, portanto, se eu "pecasse", a culpa não seria minha, porque Deus que estava no comando.

_ Vovó! Thaís não quer me deixar brincar no balanço!
_ Ô Thaís, larga de ser egoísta e deixa a sua irmã balançar um cadin!!!!
(Thaís olha nos olhos da magrela e diz, ameaçadora)
_ Se eu me meter num castigo, você tá perdida.
(A magrela começa a choramingar e resolve ceder o balanço à Thaís novamente)
_ Thaís, você ouviu????? (disse Vovó)
_ Deixa vó, eu não quero mais balançar não. Vou desenhar na terra. (magrela choramingando)
Enquanto a magrela desenhava e fazia lama com as gotinhas de seu choramingo, viu que o vovô tinha cortado vários pedaços de bambú e deixado alí pelo chão. Ainda triste e com raiva, falando sozinha, disse:
_ Também, vou jogar isso aqui na sua cabeça e você vai estar perdida comigo.
TÚM!!!!!

Silêncio.

Thaís cai do balanço.

Silêncio.

"Aaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhh!!!! Vóóóóóóó!!! Thaine tampou um bambú na minha cabeça, aaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!"

Bom, a magrela ficou de castigo por alguns dias, mas não sentiu culpa. Afinal, era marionete de Deus e Ele quis assim.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Apresentação

Eu vivo num mundo de lembranças. Sou atriz e sempre que preciso fazer uma cena ou trabalho complicado, procuro na memória como eu agí, quando criança, numa situação semelhante. E não é que funciona?!?
A lógica da criança é muito simples, ela não tem auto-crítica e faz o que quer sem pensar nas consequências. Isso é muito difícil para um adulto. 
Aprendo muito dando aula para crianças de 2 a 5 anos, de verdade! Recomendo aos deprimidos, cardíacos, estressados, anorexos, psicóticos, obesos, enfim, todo mundo que se tornou um adulto chato e cheio de doenças.



(Durante o momento do ofertório numa missa)
- Mãe!
- Pssssssssssssiu!
(mais baixo) - Mãe, pra quê que aquele garoto tá pegando o dinheiro de todo mundo?
- Pra Deus, minha filha. É pra Deus.
A mente fértil da menininha magrela começou a funcionar. "Pra Deus?!? Mas a única maneira de encontrar Deus é morrendo. Coitado do garotinho, saindo dalí aqueles caras de branco (os ministros da eucaristia) vão matá-lo só pra entregar o dinheiro pra Deus???? Não seria mais fácil Ele, que é Todo-Poderoso, descer e pegar numa hora que todo mundo tá dormindo, igual ao Papai Noel???"
O menino sai e um som seco ecoa pela igeja, foi só alguém que tropeçou no genuflexório, mas para a menina magrela pareceu um tiro. Aflita, ela começa a rezar para que Deus tenha a consideração de devolver o menino para sua pobre mãe que frequentava a missa todos os domingos. Finalmente, depois de longos minutos, o menino retorna sem nenhuma mancha de sangue. "Graças à Deus! A mamãe dele agora deve estar aliviada"
Todos os domingos era a mesma tortura, matavam o pobre do menino recolhedor de dinheiro pra Deus e a menina magrela não parava de rezar até o garoto reaparecer. 

É difícil ser incompreendida. Mas pelo menos a professora de psicologia me deu 10 num teste quando contei essa história!!!